Minhas letras trazem, como esta mesa 
onde me debruço e escrevo os meus fardos 
sinais de dores, cortes, esquecidos afagos

Por vezes entram nos carceres e nos seus remorsos 
os destroços de sonhos alheios, e assim mantêm-se
alheias aos sonhos, atenta aos fatos. 
É fato que é endurecida, sem lirismo 
sem contos de fadas, é monocromática
há nelas apenas o brilho cromático
de mãos franco atiradoras,
sempre armadas minhas palavras

Já não buscam luz, nem pássaros alegres
entram sempre no escondido do podre das almas 
e devassa os sentimentos mais torpes
Como carcinomas atemporais revelam-se 

Quando eu já não espero, elas falam
Pintam ignóbeis telas sem arte 
apenas a vida crua, cheia de crueldade

Vivo numa cidade fantasma
Onde os poetas não entram 
ficam sempre às margens
brincando com suas borboletas coloridas


Cristhina Rangel.
Cristhina Rangel
Enviado por Cristhina Rangel em 14/02/2012
Reeditado em 25/03/2012
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