Opereta Sangrenta




"Je reviendrai quand la garde montate
remplacera la garde descendante..."
Carmen-Georges Bizet (Cena de Micaela e os soldados)


Pequenos soldados de brinquedo,
trumpetes roubados e bandeiras de papel.
O que nesse maldito corpo de baile
virá a ser homem ou razão da minha desgraça?
Saem os soldados, entram meus delírios,
são pequenos achados do lítio pra engolir.
E entre a marcha, a guerra e a gala equestre,
há o vestido azul da senhorita em fuga,
trazendo os presentes daquele cujo coração
se perdeu por causa de uma flor atirada.
E o coração vale muito pouco ou nada
se não está mais em seu lado esquerdo,
se encontra esparramado no chão do teatro
por causa de um pássaro rebelde cego,
que não pode nunca se deixar aprisionar.


O que há em sua cabeça?
Talvez um poema tão tolo e primitivo,
quanto tolo é  ter nas faces o rubor
e entre as pernas os efeitos do amor.

Até mesmo em uma oração que se faz,
quando se sobe a colina na busca do intocável,
há algo de um último suspiro antes da morte
pelo punhal que define o limite para a vida
por apenas um anel recusado.

Façamos um trato, senhorita:
não me dê a flor que me dopa
e não lhe dou em troca minha vida.


 
EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 12/02/2012
Reeditado em 12/02/2012
Código do texto: T3495308
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