Sofrimento dos escravos
Parte I
As grades são forjadas no Inferno
De fábricas que consomem vidas,
Que são como flores que no hodierno
Momento estão abrindo feridas.
Os trabalhadores de todas as senzalas
Destes senhores de engenhos chamados chefes
Estão cantando suas dores que tu calas,
Oh Musa Libérrima, que soa como efe.
Efe de flor, pois és a mais bela de todas
As ninfas que os poetas cantam
Nas suas poesias copiadas
Pelos poetas que alcançá-la tentam.
Enquanto sofrem esses escravos,
Os livres vivem falando de liberdade,
Mas não sofrem como aqueles bravos
Humanos sofrendo a eternidade...
Parte II:
Oh sofrimento desgraçado que mal olha a lua,
Quero divertir-me em ver teu fim,
Mas persiste a me perseguir qual mulher nua,
Fazendo o meu sofrer sem Torre de Marfim.
Assim, vou morrendo preso a este enigma
Que me percorre a alma: sou escravo
Ou empregado, qual dos dois o magma
Puxa para o centro da Terra, o mais bravo?
Então, essas correntes de tristeza vão lavando
O meu coração que suporta a calma
Das torturas que os escravos sofrem cantando.
Quero que tu, oh Hades, leve as almas que amando
Sofrem trabalhando e fazendo calos nas palmas
Das mãos que laboram suando.
Parte III:
Mas será que é verdade o que os anjos dizem?
Estão vindo a justiça e a piedade para as almas
Que sofrem sempre trabalhando e fazem
Cada dia, um dia mais triste, ainda calmas.
Oh Inferno dos que trabalham neste mundo,
Ameniza a dor dos escravos destes mares,
Que vão morrendo de tristeza e mal profundos
Neste imenso oceano cujo destino é viver em pares.
Adeus para este mundo, pois estou morrendo...
Sofro de mal profundo, mas vou vivendo,
E, se eu puder, vou viver sofrendo...
Esse sofrer é uma fuga para aqueles que fugindo
Das dores piores que o sofrer vivendo
Vão vivendo do sofrer horrendo.