Cardiovascular



Pois nasci, e o mundo se arrependeu.
E eu decidi não matar ninguém.


Eu tenho uma história pra contar,
daquilo que preenche o ventrículo esquerdo,
e de lá, se espalha pelo meu cérebro.
E se eu fugisse? 
Não haveria estradas suficientes.
Nada eliminiaria os espinhos
de crescer, aprender e saber.
Depois descobrir que tudo não se pode.
Que divisões celurares se dão
apenas em elementos menos especializados.
Dê apenas uma olhada
na expansão de meu tempo.
Na inversão de minhas pálpebras.
Estou sendo domado.
Meus arreios e minhas algemas,
irão mudar o futuro, suas feições,
será aterrador, terrível.

Essa será uma outra forma de palavra,
supostamente junta de minha carne,
inutilmente cravada nos olhos perfurados.
Como eu poderia supor,
que ser obrigado a convertar a natureza,
seria matar a Deus, seria me tornar o portador
da mão que independe de minha vontade.

Minha velocidade não dá tempo aos títeres.
Não permite que seja decidido
se desejo manter esse corpo vivo ou não.
E todos sabem de minha maldade.
Todos esperam a conversão.
Mas nascido, o mundo invade o céu.
Você pode se sacrificar,
apenas para se libertar de sua escuridão?
Ou será que teremos sempre o mesmo?

Meu espírito não está no músculo cardíaco.
Não está em uma divindade à beira do acaso.



EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 12/02/2012
Código do texto: T3495063
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