Dá licença poesia
Dá licença poesia
Que eu quero evocar poetas
Que me fizeram ser quem sou
Vinícius em Pessoa, Caetano, Pena e Chico
Construiram um pouco de mim
Eu que era uma pobre alma
Pendente num corpo magérrimo
Lapidado em uma tristeza entorpecida
Que não conseguia enxergar
A meio palmo da poesia
Que estava incrustada na existência
De minha tão breve e parca vida
Eu que ruminava canções
Num crânio insolente
Preenchido pouco a pouco
Com o verbo e a rima
De uma língua
Que arremessava poesia
Pela boca sempre incrédula
E se fixava na tela
Que tinha por trás dos dentes
Logo eu, poesia
Fosses escolher
Pra te servir de porta voz
Que num entremeado
E intrincado jogo de teias
Te desfazia e te atava em nós
Cegos novelos
Pendentes nos dedos tristonhos
Jogos traçados por finas agulhas
revelavam uma harmonia muito íntima
entre o poeta que se arrastava
E a melodia que nascendo assombrava
Pois nem tão pobre
Nem tão Rei
Eu me preenchia de nobreza
Aquela que não é para reverência
Nem para adoração
Era simplesmente
Poesia ardendo num peito
Que não tinha outro jeito
Revelado seria
O íntimo da alma
O jeito poeta de ser
e de se extravasar a emoçao