SEM DESTINO
Loucos pilotando balões fazem tremer as estrelas.
E os grilos malucos ficam loucos de estrilos também.
E os gritos dos que não escutam os avisos surdos soam
feito guisos no rabo das assembléias daqueles que se imaginam sãos.
Loucos são. Poucos têm a sanidade de perceber que a loucura
dos poetas é lucidez que não coube lá dentro e transbordou
em cachos de marimbondos de ferrão doce que aguilhoam o céu.
E o balão dos loucos vai aos trancos e barrancos, voando ao léu.
Leva no balaio uma grosa de métricas e uma prosa em rimas.
E formigas tocando guitarras feito cigarras em noite de chuva.
E leva solidões em pencas e verbenas em verbos de avencas.
E hortências imensas, palavras meigas e mansas feito danças
de borboletas de tranças tramadas em cantigas de roda ciranda.
E o balão nunca se cansa de voar feito sorriso de eterna criança.
De esperanças são feitos os sonhos dos visionários que nunca
se perdem, mesmo nos descaminhos, lá no remoinho da curva
onde nem se dobra a honradez e nem o brio das águas desse imenso rio.
É onde rio e corro em lágrimas e, aos poucos, como o sol sobre o morro
morro e renasço também. E vou sem medo para o não-lugar, o lugar sem.
E sei que além tem outro além que abriga os loucos que de loucos nada têm.
São malucos, com certeza, pois sabem voar mesmo que não existam balões.
Inventam asas muitas, emplumadas de silêncios e maduras solidões.
E devoram as incertezas, feito esfinge que se alimenta do próprio mistério.
Mas têm nos olhos o brilho cristalino daquele estranho minério
que enxerga no escuro o que se esconde por trás dos olhos cegos da multidão.
E, sem destino, segue o balão dos loucos, aos poucos, subindo e ganhando lonjuras.
E os loucos, despidos de medo, viajam sua loucura e somem de vez na imensidão.
(para o poema OPERETA DA PARTIDA, de Rose Stteffen)