LEMBRANÇAS e DESPEDIDA

Cai a chuva, sopra o vento,

e a brisa faz lamento,

mas de ti eu não me esqueço.

Quando a vida está vazia,

noite escura ou noite fria,

em lembrar-te me aqueço.

Teu semblante tão risonho

ilumina os meus sonhos,

tua lembrança não tem preço.

Quando à noite brilha a lua,

minha alma é sempre tua.

Penso em ti e adormeço.

(inspirado nos belos tercetos SEDUÇÃO, de HLUNA)

DESPEDIDA

O sol já se foi.

E eu também quero ir me embora.

Outros tempos, eu ficava.

Não estes de agora.

Aridez, secura, espinhos.

Estendo a mão, acaricio o vento,

e por um breve instante

meus olhos se espicham no tempo.

Ao longe, me convida o horizonte, no lusco-fusco do sol.

Gravo na retina da memória

a fugacidade eterna daquele breve momento.

A sabedoria reside em repartir em pratos iguais

a tristeza e a alegria das lembranças.

E ter sempre em meio à prataria

algumas taças reluzentes, refulgidas de esperança nos cristais.

É saber a hora exata de partir sem sequer olhar para trás.

Vida nova se reinventa em qualquer parte,

pois os lugares são parecidos, mas nenhum deles é igual.

É preciso olhos de poeta para além do bem e do mal.

E se livrar de todo o fardo. Desapego. E não temer, jamais, a solidão.

Se não tiveres essa sabedoria, ficarás para sempre cravado no mesmo chão.

Feito estátua de sal.

A estrada à frente convida. E uma flor escondida,

nos ermos distantes, exala um perfume

que promete solo fértil para o renascer da vida.

Uma estrela brilha tênue na noite quase escura. Pia uma coruja.

Aperto o passo e sigo a trilha, talvez Aldebarã.

Adivinho no sopro da brisa um gosto de aurora.

Promessas de nova manhã.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 10/02/2012
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T3490887
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