LEMBRANÇAS e DESPEDIDA
Cai a chuva, sopra o vento,
e a brisa faz lamento,
mas de ti eu não me esqueço.
Quando a vida está vazia,
noite escura ou noite fria,
em lembrar-te me aqueço.
Teu semblante tão risonho
ilumina os meus sonhos,
tua lembrança não tem preço.
Quando à noite brilha a lua,
minha alma é sempre tua.
Penso em ti e adormeço.
(inspirado nos belos tercetos SEDUÇÃO, de HLUNA)
DESPEDIDA
O sol já se foi.
E eu também quero ir me embora.
Outros tempos, eu ficava.
Não estes de agora.
Aridez, secura, espinhos.
Estendo a mão, acaricio o vento,
e por um breve instante
meus olhos se espicham no tempo.
Ao longe, me convida o horizonte, no lusco-fusco do sol.
Gravo na retina da memória
a fugacidade eterna daquele breve momento.
A sabedoria reside em repartir em pratos iguais
a tristeza e a alegria das lembranças.
E ter sempre em meio à prataria
algumas taças reluzentes, refulgidas de esperança nos cristais.
É saber a hora exata de partir sem sequer olhar para trás.
Vida nova se reinventa em qualquer parte,
pois os lugares são parecidos, mas nenhum deles é igual.
É preciso olhos de poeta para além do bem e do mal.
E se livrar de todo o fardo. Desapego. E não temer, jamais, a solidão.
Se não tiveres essa sabedoria, ficarás para sempre cravado no mesmo chão.
Feito estátua de sal.
A estrada à frente convida. E uma flor escondida,
nos ermos distantes, exala um perfume
que promete solo fértil para o renascer da vida.
Uma estrela brilha tênue na noite quase escura. Pia uma coruja.
Aperto o passo e sigo a trilha, talvez Aldebarã.
Adivinho no sopro da brisa um gosto de aurora.
Promessas de nova manhã.