Angústia

Angústia,

Simplesmente angústia.

Com o azedo gosto do sobejo de uma boca babada de sono,

Abro meus olhos.

Angústia.

"Um novo dia começa",

Diria um livro de autoajuda.

Acredito esses livros estúpidos;

Mas é por isso que vendem tanto.

Vinte e quatro horas de uma vida,

De uma vida de vinte e poucos anos,

É o mesmo que um pedaço de bolo,

Se comparado ao bolo inteiro:

Não deixa de ser bolo -

Fracionar as coisas não lhes tira a natureza.

Cambaleio rumo a continuidade da existência,

Sinto uma certa saudade da inexistência do dormir.

Essa fome que me atormenta,

E me vai atormentar pelo resto da vida,

Faz-me um ser em constante jejum -

Por desejos, sonhos, presenças e ausências,

Chegadas e partidas, amor e solidão;

Um paradoxo que somente a morte apazígua.

Não quero pensar em porquês.

Eles são vazios de concretude,

Sempre inventados convenientemente.

Sendo assim,

Penso a angústia como um porquê de algo,

Entretanto, sem nenhuma relação de causalidade.

A angústia,

mesmo pesada,

É o que nesse instante me move como a um objeto inerte -

Estou inertemente ziguezagueando minha nudez pela casa.

É dessa forma que estou acontecendo esta manhã.

Cheguei ao banheiro,

O primeiro destino funcional daquele que desperta.

O espelho mostra a mesma mentira de sempre.

São seis e meia;

Acordei às seis e quinze.

Junior Lopes
Enviado por Junior Lopes em 07/02/2012
Reeditado em 20/05/2016
Código do texto: T3484938
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