Angústia
Angústia,
Simplesmente angústia.
Com o azedo gosto do sobejo de uma boca babada de sono,
Abro meus olhos.
Angústia.
"Um novo dia começa",
Diria um livro de autoajuda.
Acredito esses livros estúpidos;
Mas é por isso que vendem tanto.
Vinte e quatro horas de uma vida,
De uma vida de vinte e poucos anos,
É o mesmo que um pedaço de bolo,
Se comparado ao bolo inteiro:
Não deixa de ser bolo -
Fracionar as coisas não lhes tira a natureza.
Cambaleio rumo a continuidade da existência,
Sinto uma certa saudade da inexistência do dormir.
Essa fome que me atormenta,
E me vai atormentar pelo resto da vida,
Faz-me um ser em constante jejum -
Por desejos, sonhos, presenças e ausências,
Chegadas e partidas, amor e solidão;
Um paradoxo que somente a morte apazígua.
Não quero pensar em porquês.
Eles são vazios de concretude,
Sempre inventados convenientemente.
Sendo assim,
Penso a angústia como um porquê de algo,
Entretanto, sem nenhuma relação de causalidade.
A angústia,
mesmo pesada,
É o que nesse instante me move como a um objeto inerte -
Estou inertemente ziguezagueando minha nudez pela casa.
É dessa forma que estou acontecendo esta manhã.
Cheguei ao banheiro,
O primeiro destino funcional daquele que desperta.
O espelho mostra a mesma mentira de sempre.
São seis e meia;
Acordei às seis e quinze.