NADA-TUDO EM MIM

SENTINDO A PULSAÇÃO ARDENTE

DA TEZ DO MUNDO EM MINHA VOLTA

COM AS SUAS CORES E DELÍRIOS HÍBRIDOS

SENTINDO OS SEUS CHEIROS TEIMOSOS

SEUS SABORES, SUAS MATIZES

E SUAS NUANCES SAGAZES

NÃO VEJO EM MIM

A PORÇÃO DO BELO

QUE EM VOCE NÃO FALTA

SEMPRE VOCE TERÁ

POIS EU TE ALUMIO

COM O MEU FAROL QUE BRILHA

DA SOLIDÃO QUE ME ENCOSTA

COM O CHEIRO DO QUE ME FALTA

COMO UM HOMEM SOLITÁRIO QUE SOU

A TE ADMIRAR COMO O HOMEM

QUE EU QUERIA SER

TENDO O QUE TU TENS

PARA AS MINHAS PUTAS SACIAR

COMO TU SACIAS AS TUAS

NAS MIL CAMAS QUE TU TATUAS

NAS MIL NOITES QUE TU COLORES

E NÃO COMPREENDO

E ME RENDO SEMPRE

A MINHAS ILUSÕES

A ME TORTURAR

COM TANTO OBSCURANTISMO

SÁDICO ÀS CLARAS...

...CHORO SEM MAIS TER LÁGRIMAS TÃO SECAS

A FLORESCER NOS MEUS MUROS

SEM ALICERCES

NOS RIOS SECOS QUE DESÁGUAM EM MIM

COMO MARCAS NAS ARAGENS

DOS MEUS HORIZONTES AZUIS

SEM SEDUÇÃO

...AS TUAS COXAS, DURAS E FORTES?

ME SURPREENDEM DE LONGE

SEMPRE

SEMPRE EU AS INVEJO

E ME PENSO COMO SENDO VOCÊ

POIS ELAS SÃO O QUE EU NÃO SOU

E O QUE EU NÃO TENHO

OU O QUE EU QUERIA SER PRA ALGUÉM

- MINHAS PUTAS PREDILETAS, SECRETAS, POETIZAS

DAS VERBORRAGIAS SÁDICAS E VAGABUNDAS

ORIUNDAS DOS SUBSTANTIVOS

PROFANOS E SAGRADOS

O QUE TE SOBRA E FALTA EM MIM

QUERIA PRA MIM MESMO

OU PRA ME DAR PRA MARIA

ESSE ALGUÉM QUE SINTO

QUE SENTE FALTA DISSO DO QUE EU TANTO NÃO TENHO

O QUE TE SOBRA, ME FALTA

ME AVILTA E ME DESNORTEIA

MAS DE TI EU NADA TENHO

QUASE NADA EM MIM É IGUAL A TI

TEUS GOZOS NOTURNOS, MATINAIS, MÚLTIPLOS

NEM AS MINHAS COXAS

OCUPARIAM AS TUAS CALÇAS

E ISSO ME DESGASTA

ME ABSORVE, ME COMOVE

AVILTANDO-ME, SOTERRANDO-ME

QUASE QUE POR INTEIRO

E PERCEBO NELAS

O CONFORTO

QUE EU PRECISO DAR PRA ALGUÉM

E ME SINTO NUM OCO LABIRINTO

SEM VER PRIMAVERAS INTEIRAS

SEM SENTIR O CHEIRO DAS SUAS FLORES

NA CURVATURA DA SOLIDÃO

NAS MINHAS NOITES A DOIS

SEM LADOS

DESBOTADOS

PERDIDO EM SOLUÇÕES E PRANTOS INCÓGNITOS

ENTÃO ME CURVO SOLITÁRIO

AH! SE EU TIVESSE O QUE TU TENS

GOZOS EU CAUSARIA

EM ARREPIOS DE PELOS E DE POROS

DORSAIS

MÚLTIPLOS

E ISSO ME DESBOTA

ME DESGASTA

E ME DESGOSTA

E ME ARREBENTA POR DENTRO E POR FORA

E ME SINTO INSOSSO

COMO VIDRO QUEBRADO, ESTILHAÇADO

VENTO A FORA

ME SINTINDO COMO UM OSSO MOLE

OCO, PODRE E CINZENTO

COMO BRISA DIÁFANA SEM ÁTOMOS

SEM SAÍDA, SEM VIDA, SEM RÉDEAS

SEM DIREÇÃO, SEM CAIS

SEM ENXERTO, DESERTO SEM OÁSIS

E ME EXTERNO EM MIM MESMO COMO PRAGA QUE ANIQUILA

ESTRADAS, MADRUGADAS, OCASOS

E ME ENTREGO AO VENTO SEM CIO

COMO HOMEM VULGAR, DEVAGAR

A CAVALGAR PERTINENTE, ITINERANTE

EM MEUS PENSAMENTOS VADIOS, DESELEGANTES

SEM ASAS, SEM CURVAS, SEM HORIZONTES

AS TUAS NÁDEGAS,

CREIO QUE SÃO MACIAS, SEM MARCAS

DO JEITO QUE EU QUEIRA AS MINHAS

MACIÇAS, MÁSCULAS, EXATAS...

QUE SE ENCAIXARIAM NOUTROS ÂNGULOS

E QUE CREIO QUE TENHA CHEIRO

MAS NADA IGUAL AS MINHAS

E AS TUAS LARGAS COSTAS LARGAS

QUERIA TÊ-LAS

COMO PROTEÇÃO PRA ALGUÉM

QUE DELA PRECISA E ME ANARQUIZA

NA MINHA VULGAR DETERIORIZAÇÃO

E COM ESSA TUA BELEZA

QUE EU NÃO A TENHO

EM MIM

MAS QUE DESEJO TER COMO MINHA

PRA SEDUZIR QUEM DELA PRECISA

COMO CARENTE MULHER-PUTA SÓ MINHA

A FINCAR RAÍZES DOS MEUS DESLIZES

EU NÃO TENHO

AS TUAS NÁDEGAS FORTES

E NÃO TENDO

ISSO ME CONSOME COMO COISA SEM NOME

FICO ANÊMICO SEM O VIGOR DA POESIA

QUE MORA EM MIM COMO HOMEM

POR NÃO TER O QUE TU TENS

EU LARGO EM MIM NÓDOAS ONÍRICAS

DESSE VÁCUO INÍQUO LÍQUIDO SALUTAR

DESSE HIATO BREVE

INSÍPIDO, INCOLOR

E LÍMPIDO

DESSAS COISAS QUE EU NÃO TENHO

QUE ME ESVAZIAM COMO CADÁVER DE RIO

QUE ME VAZAM COMO SILHUETA SEM DONO

E ME ARRAZAM POR DENTRO

COMO ARGILA SECA DE SERTÃO

SEM ÁGUA

COMO UM PAU OCO, TORTO E SECO, ÀS CINZAS

A TUA PELE, REFLETE A NÃO MACIEZ DA MINHA

E EU SINTO

QUE NÃO A TENHO

OU QUE EU PENSO EM NÃO TER

EM MIM

NEM PARECE

QUE PARECE

QUE PARECE

QUE CARECE

QUE ME ENTRISTECE

MAS QUE PADEÇO

NESSE DESERTO

NESSA SOLIDÃO

FRIA, ARREDIA

QUE EU MESMO CRIO

E ALICERÇO

E NELE ME DESAPAREÇO

COMO ÁGUA AO VENTO

QUE SE EVAPORA

SEM DEMORA

COMO PÓLVORA

SECA

COMO VERME LUNAR

EM NOITE ESCURA

ME NUTRO

DA VOLÚPIA DE TE SER

AO NÃO QUE ME DOU

SEMPRE

E EU NÃO ME QUERENDO

ME ENFUREÇO

PARA SEMPRE

SEMPRE

EU NÃO TENHO

O TEU SORRISO

EM MIM

E ME PERCO NO MEU SORRIR

EM DETRIMENTO

DO QUE ME FALTA

DE VOCE

OS TEUS OLHOS!!!

EM MIM

EU NÃO OS TENHO

E ENXERGO A FALTA

QUE OS MEUS OLHOS ME FAZEM

AO ENXERGAR OS TEUS

TÃO SOMENTE

TEUS

E QUE EU QUERIA

COM ELES

UM MUNDO DENTRO DE MIM

ENXERGAR

A TUA COR MORENA

EU QUERIA TÊ-LA

EM MIM TATUADA

PARA PUROS TOQUES TÁTEIS

ORGÁSMICOS DE ALGUÉM

EM ALGUÉM

POR ALGUÉM

SEM NINGUÉM

ESSA ERUPÇÃO NARCÍSICA

E ORGÍACA

DA MINHA VOLÚPIA

E NA SECA DE NÃO ME VER

E NA SECA DE NÃO ME SER

E DE ESTAR

EM MIM MESMO

COMO EU SOU

NÃO SENDO NADA

DO QUE TU ÉS

VIVO NO MEU TÉDIO

COMO ARADO EM TERRENO SECO

INFÉRTIL

NO NÃO SENDO O QUE SOU

ME DETERIORANDO AO MÁXIMO!!!

E ME EXPONDO A MIM MESMO

NÃO TENDO PARA DAR

O QUE DE MIM ESPERAM

E PRECISAM

E PENSO NÃO TER PRA DAR

E TUDO SOBRA EM TI

E NADA DISSO TE É PERCEBIDO

E POR FALTAR EM MIM

EU TE VEJO

COMO UM HOMEM-DEUS-MENINO

E NAS SUJEIRAS E IMUNDÍCIES DE MIM MESMO

ME ENCHARCO

DA POBREZA

DE NÃO ME VER COMO EU SOU

QUIÇÁ PARECIDO COM VOCE

E NESSE OLHAR PERDIDO E ESCONDIDO

ME ENCONTRO EM ALUCINAÇÕES

E ME PERTURBO COMO LOUCO

ME ESPELHANDO NO TEU SORRISO

NO TEU OLHAR

E ME DERRETO EM LÁGRIMAS

CRISTALIZADAS POR DENTRO DE MIM

ME MAQUIANDO SEMPRE

COM A FANTASIA COVARDE

DE QUEM EU NÃO SOU

E O MEU DEVIR

SE ESCONDE

E SE PERDE

POR ENTRE AS PAREDES FÉRTEIS

DA MINHA POSSIBILIDADE

DE ME TORNAR O HOMEM QUE EU SOU

QUE GOZA A VIDA

COM O SUSPIRO E COM O HÁLITO

DA MINHA SEDE DE UM DIA VIVER

O QUE ESTÁ EM MIM

EM NADA DIFERENTE DE VOCE

PARA NUNCA MAIS SENTIR

ESSE EQUÍVOCO INEQUÍVOCO

DE QUE TU TE ORGASMAS

NAS AVENTURAS DA VIDA

OU DE QUE TU GOZAS

EM TUDO NA VIDA

MELHOR DO QUE EU

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 06/02/2012
Reeditado em 27/04/2013
Código do texto: T3484182
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