Suporte
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
Salve-se quem puder!
Estou salvando o que ainda tenho de mulher!...
Bebei-me, ó rio, sedento de banhistas,
Que hoje eu me visto de água, de vento, de vírgulas,
De areia e de certezas,
Para lavar constrangimentos...
Anoto na superfície da pedra o canto liso de uma sereia,
Para entregá-lo ao rapaz
Que canta gregoriano, em Latim,
A fim de que solfeje pra mim
A música que Ulisses quis ouvir,
A mesma que até hoje atrai e arrasta,
Posto que o tempo nem tudo devasta...
Lavai, levai meus constrangimentos, rio!
Eles não têm tamanho nem cor,
Só dor...
Dignificaram-me os arranhões da selva,
Da selva de pedra,
Hoje, cicatrizes.
De tanto o Anjo da Guarda enxugar meus olhos pranteados
E passar suas mãos em minha cabeça
Pra limpar manchas do mundo,
Meus cabelos estão ficando prateados...
Se fosse possível recolher todas as minhas lágrimas
Num recipiente,
Duvido que chegassem a encher um litro!
Uso mais chorar a seco.
Livrai-me, ó Deus, de todo constrangimento!...