Suporte

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Salve-se quem puder!

Estou salvando o que ainda tenho de mulher!...

Bebei-me, ó rio, sedento de banhistas,

Que hoje eu me visto de água, de vento, de vírgulas,

De areia e de certezas,

Para lavar constrangimentos...

Anoto na superfície da pedra o canto liso de uma sereia,

Para entregá-lo ao rapaz

Que canta gregoriano, em Latim,

A fim de que solfeje pra mim

A música que Ulisses quis ouvir,

A mesma que até hoje atrai e arrasta,

Posto que o tempo nem tudo devasta...

Lavai, levai meus constrangimentos, rio!

Eles não têm tamanho nem cor,

Só dor...

Dignificaram-me os arranhões da selva,

Da selva de pedra,

Hoje, cicatrizes.

De tanto o Anjo da Guarda enxugar meus olhos pranteados

E passar suas mãos em minha cabeça

Pra limpar manchas do mundo,

Meus cabelos estão ficando prateados...

Se fosse possível recolher todas as minhas lágrimas

Num recipiente,

Duvido que chegassem a encher um litro!

Uso mais chorar a seco.

Livrai-me, ó Deus, de todo constrangimento!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 16/01/2007
Código do texto: T348410