Toreador
Tenho para ele a mão que aperta a conta,
do rosário açafrão contra o peito oprimido.
Dança estática de flancos em curva tensa,
a um passo da malagueña e do amargo canto.
Respiro, me oculto, são as mãos em arabesco,
de um infeliz golpe que ao largo se abandona,
a dança morre, no breu terrível dos olhos negros,
que sob a renda vermelha, pulsa e chora.
Fendido o peito daquele que a oração ignora,
pela cônica lança da fera sangrenta, acuada,
termina meu grito, antes que se faça na garganta,
desaba o silêncio, guardam-se as flores agora.
Há no centro, entre a poeira e os sangue vertido,
a escultura dançante, por agora, toreador ferido.
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Este poema é dedicado ao grande escritor Tiago do Valle, que me sugeriu num comentário um outro final para a tourada.