REFLEXÃO DE UMA VIDA

Foi naquele jardim de janeiro,
Onde as flores de várias cores
E cheiros, também da fértil terra,
Colocavam-me no topo do mundo.

As borboletas, as joaninhas e os marimbondos,
Em rasos voos, adornavam minha alma,
Ainda inocente e adormecida aquém- mundo,
Naquele pequeno jardim cheio de vida.

Ninguém notou quando ele se desfez misteriosamente.
Teria sido em alguma noite perdida em pesadelos,
Em algum dia que em mim não amanheceu,
Ou naquele meu olhar indigente para o horizonte além?

Depois vieram as estrelas do firmamento, desordenadas,
Que confundiram minha mente e ofuscaram minha visão.
E as flores do pequeno jardim pareciam tão murchas,
Imperfeitas, sem cores, sem cheiros, sem vida!

Ao buscar o horizonte, achei um mundo vasto.
Vasto e obscuro. Não havia mais borboletas e joaninhas.
Os marimbondos, estes sim continuavam por toda parte,
Negros e grandes, insanos, sempre à espreita para o ataque.

Ao contemplar as estrelas, perdi-me em sonhos de poeta,
Ansiando os amores das flores andantes e perfumadas,
Ainda mais belas que as rosas do jardim de outrora.
Plantei em mim muitas dessas flores, sem perceber
Que continham grandes espinhos que atingiram minha alma.

Ás vezes, eu sorria em janeiro, e chorava lágrimas indolores.
Hoje não choro, nem sorrio. Não vejo mais cores nem luz.
O pequeno jardim fora perdido com a inocência minha,
O devaneio e a escuridão são as únicas coisas que persistem em mim.

E o silêncio que agora me toca é o da noite incerta e descrente,
Onde é vazia a razão, constante a fria chuva, e vaga a chama.
Já não vejo mais flores, nem borboletas, nem joaninhas,
Mas os marimbondos, estes estão a me ferroar por toda parte.


Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 31/01/2012
Reeditado em 01/02/2012
Código do texto: T3472660
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