INSENTIMENTAL
Tua luz veio a mim com intensidade,
Despertando-me na penumbra em que adormecia.
Agucei meus sentidos, tomei-te toda,
E de tal forma que te perdeste em mim.
Tornei-me como a sombra que te persegue
Em estranhas cenas, nas frias noites de solidão.
E minha chama foi além de teu belo corpo,
Povoando teus pensamentos em descaminhos.
Não permiti a ti que me visses por inteiro.
Sonhando-me o homem de amor pleno,
Fui apenas o pecado, em bela apresentação,
Que te convidou às trevas, onde foste consumida.
Quando percebeste meu verdadeiro semblante,
Teu nobre coração já houvera sido tomado por mim.
As esperanças e ilusões caíram-se por terra,
E escorreram-se como enxurradas enlameadas.
Agora sou não mais que um olhar que te castiga,
E tua sede tornou-se insaciável por gotas de consolo.
O vento te sopra mais forte e a chuva fria te cai,
Alimentando o fogo que acendi em tua alma.
Em minha própria solidão, vivo em dores que não nunca cessam,
E as propago em fome insaciável por corpos que aproximam demais.
Não há esperanças no porvir. Minha alma não ri, nem chora,
Não se apieda, nem se contenta. Está gélida e indiferente.
Não foste avisada que sou ilha a se alimentar de náufragas?
Vi-te à deriva em um mar sem amores e ansiei-te faminto,
Mas o resgate tem alto preço pelo amor que te foi aceso,
E que não podes ter de mim, porque me eclipso e me embruteço.
Vê o monstro com quem andavas, nobre mulher?
Olha à frente, contempla o vasto, afasta-te rapidamente.
Estou escudado de amores e de esperanças humanos,
E meu próprio espírito já sucumbiu em angústias que não entendes.
Péricles Alves de Oliveira