Esboço de um Poema para um Pai

Eu nunca consegui escrever um poema para o meu pai. Escrevi alguns contos e prosas inspirados em episódios que me marcaram no convívio com ele, é verdade.

Mas um poema... ?

Desses que transbordam a alma?

Não consegui ainda.

Acontece que o sentimento que eu tenho pelo meu pai é tão vasto, tão amplo, tão diversificado... que eu nunca consegui esparramar em papel uma face apenas disso tudo.

Pareceria pobre.

Seria pouco.

Como falar do espelho sem falar do riso?

Como falar do riso sem falar do chão?

Como falar do chão sem falar da escola?

Como falar da escola sem falar do ombro?

Como falar do ombro sem falar do amigo?

Como falar do amigo sem falar do Pai?

E agora?

Como falar do Pai,

sem falar da Falta?

E como não falar?

Dia desses, Papai, eu ainda consigo

te escrever um poema

que mostre um tantinho

de toda a prosa que tivemos

de toda a poesia que vivemos

nos contos da nossa história

nas crônicas das nossas vidas

Um dia desses, Papai,

ainda te escrevo um poema

que me transborde da alma

um tantinho do tanto

que eu te amo.

O de hoje

É só esboço.

(janeiro de 2012)