LEMBRO-ME
Lembro-me da coruja no beiral do telhado
Com seu pio triste, ajudando-me a chorar
A perda lastimável do meu homem amado
Daquela imagem não mais a contemplar.
Lembro-me das noites de tédio do frio na alma,
Do coração inquieto dentro do peito a soluçar
E a coruja no beiral do telhado cabisbaixa e calma,
Emprestava-me a sua melodia com as asas a balançar.
Lembro-me desse amargo tempo já muito passado
Escorregando devagar no calendário da minha vida,
Das horas preguiçosas do relógio, sempre atrasado,
Com seus ponteiros no ritual da própria despedida.
DIONÉA FRAGOSO