Ode melancólica ll
Me entrego à poesia por inteiro
Faz parte do meu dia e do meu sono
Matilha de cães sem dono
Caçador sem tiro certeiro.
Notívago feito lua cheia e nua
Em lágrimas de suor, sangue e melancolia
Meretrizes em becos escuros, sombrios
À margem da vida feito sombras.
A dor de vir, sentir...é melancólica
Meninos nas ruas, assassinos, ladrões e mendigos
A falta que sinto na saudade dos amigos
Um a um...partindo! Nem sei para onde.
Do fim que eu procuro não sei nada
E nada estanca o vento nas procelas
Palavras não são mágicas, nem quimeras
Minha vida é uma vida pela vida impactada.
Tudo que escrevo a ferro, ácido e fogo
Tatuando os nervos feito ferro no gado
A vida agride, debilita, degrada, finda
O joio e o trigo em brasa branda, infinita.
Ó! Melancolia, me dê paz, eu tenho sono
Não me cubra com o negro véu da tua mortalha
Não sou ainda o espectro na batalha
A vitória vem depois de longos anos.
Piedade! Se recluse, melancolia companheira
Uma trégua para olhar o destino disperso
Sem badaladas que fazes com o teu sino
Perpetuando em meus olhos, profundas olheiras.
Tenho febre de angústia e de cansaço
Dói-me o corpo que quase não me sinto
Es morfina, ao mesmo tempo labirinto
Quando me perco entre vielas em que passo.
Sinto falta de prazer e entretenimento
A fome de amor tem gosto amargo
Feito o último trago na guimba do cigarro
E o orgasmo que não sinto há muito tempo.
De tudo que sei nunca sei de nada
Falhas cometi que até perdi as contas
Fui deuses, eremitas, nômades, monges, santos
Tudo por fé, uma fé inacessível, inabalável.
Afoguei-me em mar de dores preconcebidas
E por mais que tenham me causado danos
Penso não fazer parte desse maldito plano
Células, moléculas, átomos de outras vidas.
Em minh'alma cabe as dores desse mundo
E o peso do planeta eu sustento com um dedo
Reencarnar com melancolia mais profunda
E com a sorte de ser poeta!...