Homem Ao Bar

- Boa noite. Uma dose de "Amor", por favor

- Sinto muito, acabou, quer outra coisa, senhor?

- Pode ser. O que você me sugere?

- "Intolerância", "Ignorância". Ou algo mais forte prefere?

- Pode ser, não custa tentar. Só quero acabar com o tédio.

- Então prove um pouco disto: "Rejeição". Santo remédio.

- Obrigado, mas isso não aceito. Já provei, não me apetece.

- Tudo bem, ninguém a aceita. Mas acabam provando, acontece.

- É verdade, infelizmente. Todos vivem esse episódio.

- Pois é, meu bom cliente. Que tal uma dose de "Ódio"?

- Boa ideia, sirva-me. Vamos ver se é bom o gosto.

- Eu não gosto, meu amigo. É de franzir o rosto.

- Então deixa, esqueçamos. Teria outra opção?

- Tenho o "Medo", a "Angústia" e a velha "Solidão".

- Essa última é meu vício, mas quero deixar de lado.

- Esquecê-la, finalmente? Pois eis que tem mudado!

- Só um pouco, só um pouco. Me diz o que mais você tem.

- "Vulgaridade", boa safra. Vende muito. É de ontem.

- Obrigado, mas rejeito. Deixe-a para a maioria.

- Mas todo mundo adora, por que então rejeitaria?

- "Todo mundo" não pensa. O que um faz, outro copia.

- Pensando bem, é verdade. Não há "Original" hoje em dia.

- Ainda há, mas é raro encontrar. Boa parte se perdeu.

- Se há, onde está? Você tem? Quem lhe vendeu?

- Quem tem a mantém escondida. Apenas não segue tendência.

- Entendo, caro amigo. Fecho logo, que tal "Incompetência"?

- Essa é forte, não encaro. Brinda-se com ela na política.

- Eu concordo, de certa forma. Mas me diz a razão da crítica.

- Se brindassem com "Honestidade", eu jamais criticaria.

- Para muitos ela não presta. São monstros que o dinheiro cria.

- "Bom Senso" seria uma boa. Já viu algum político tomar?

- Sinceramente, nunca vi. Acho que não agrada o paladar.

- Acho que é melhor eu partir. Algo para a minha saída?

- Um pouco de "Sorte" vai bem. Às vezes é preciso na vida.

- Sinto muito, caro amigo. Mas novamente rejeito.

- Que pena não querer. "Orgulho"? É de encher o peito.

- Melhor não, vou embora. Mas retorno um dia qualquer.

- Espere! Que tal "Futilidade"? Boa pra conquistar mulher!

- Está errado. Mulher que se preza não se conquista com isso.

- Mas olhe ao seu redor! Todos tendo compromisso!

- Errou de novo. É a moda de hoje: "Idiotice" e "Futilidade".

- Puxa vida, e eu achando que era tudo de verdade...

- Tenho que ir, meu amigo. Mas é assim que está nosso Brasil.

- Tudo bem volte sempre. Mas o que há nesse cantil?

- Neste cantil levo comigo algo sem o qual não vivo.

- O que é? "Alegria"? "Felicidade"? Ou é algo mais nocivo?

- Nada disso, nada disso. É algo muito ameno.

- Algo que lhe faz sensato, racional e mais sereno?

- Isso mesmo, acertou. No cantil há "Tolerância".

- Parabéns por isso. Muitos carregam "Arrogância".

- É por isso que sempre trago este meu cantil comigo.

- Até mais, boa viagem e volte sempre, meu amigo!

Edimar Silva
Enviado por Edimar Silva em 29/01/2012
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T3467954
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