Ode melancólica
Me acompanha mórbida e fiel melancolia
Mola mestra do meu pobre corpo insano
Não tem fim nem com o fim de cada ano
Mas dá cabo a cada hora do meu dia.
Esta vida está prestes a matar-me
Por mais que doa, continuarei vivo
Meu ser está longe, contemplativo
Que nem a força, poderei calar-me.
Cruel pensamento torto e atormentado
Que é venoso, mas não tem sede de vingança
Esvaiu-se o semblante de criança
Do meu rosto por cicatrizes marcado.
Bate coração apaixonadamente eterno
Olhando do alto o mar feito albatroz
Meu cofre não entrego ao meu algoz
Mesmo sendo céu e inferno.
A vida há de doer por mais que eu seja forte
Vou me perder por mais que eu me encontre
Como me encontrar se corro contra o vento
Eu não sou imã, não atraio a minha sorte.
Fingi que era sensato, mas sou sensível
E o carro dos meus nervos, não tem freio
Eu nunca chego ao fim, fico no meio
E a queda do trapézio é dor horrível.
Partiram-se desígnios e destino
O açoite chicoteou-me pelas costas
Perambulei mendigando por encostas
E o abismo é um profundo labirinto.
Os dias e as horas sempre iguais
E tudo em pseudo-harmonia
Eu procuro e não encontro sintonia
Feito águas que não chegam nunca ao cais.
Por onde andam as quimeras dos meus sonhos
Alimentados por tantas utopias
Tiveram fim, eu mesmo não queria
Eu as perdi, tentando tê-las ganho.
Por onde andam as matizes dos meus sonhos
Se no escuro procura luminosidade
Paralelos da não cumplicidade
Feito eu que não encontro o que procuro.
Feriram-me a face sem um único soco
Sangrou-me a alma sem palavras obscenas
A vida é quase um final de cena
Que termina sempre sem aplauso.
Por mais que há de doer, de mim não tenho pena
Olhando ao meu redor, existem semelhantes
Loucos, maníacos, mendigos, criminosos,
Desabrigados, enfermos, amputados por gangrena.
Enquanto um animal ocupar o mesmo espaço
A dor que há no peito, sempre me alivia
Do ser, a comparação eu não faria
Falta respeito e amor num mero abraço.