QUANDO AS ESTÁTUAS MENSTRUAM.
A saudade quando vem, descabela os monges,
descarilha a razáo,
amordaça todo nosso ar.
A saudade quando vem, fagulha cada quinhão do sonho,
arregaça os pelos, os novelos de fé,
explode montanhas todas.
A saudade quando vem, fecha as cortinas,
tirá o pó do mundo, faz requentar cada morno passo,
faz a voz partir em revoada para todo o sempre.
A saudade quando vem, faz Deus suar, faz Deus recuar,
faz Deus se desarmar,
arranca Dele a pele,
faz Sua força ficar graveto, ficar nada.
A saudade quando vem, menstrua as estátuas
dá porre nos ventos, faz o gozo encalhar pra nunca mais sair.
A saudade quando vem, desparafusa a cabeça,
faz o sangue virar musgo, faz todo caminho acordar bêbado,
faz acabar todo cetim do horizonte.
A saudade quando vem, faz o suor virar ferrugem,
faz o peito se estillhaçar por inteiro,
faz a razão envergar com a gana dos mares,
faz os ossos virarem uma gosma só.
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