CHUVA DE ABRIL
Chuva que vem de repente
Trazendo mansidão
Caindo sob o teto
Descendo no vidro da janela
Destruindo aquele silêncio
Quase que sem fim
E durante poucos segundos
Me imagino em contato
Com a água, todo molhado,
De lágrimas de chuva
Que nunca passa...
No toc-toc ao bater na vidraça
Revejo desejos mortos, tortos
Rostos esquecidos, embranquecidos
Olhos inebriantes, equidistantes
Corpos sequiosos, ociosos
Palavras imprecisas, vivas
Dias tortuosos, espaçosos
Telefonemas decepcionantes
Ao não ouvir tua grave
Sussurrante, doce voz
Dizendo-me um simples oi
Confirmando o nosso encontro
Adiando o confronto inevitável
O desfecho mais que provável
Ficando por enquanto um ponto continuando
Uma vírgula, dois pontos, ponto e vírgula.
Resquícios, reticências e reminiscências
Emaranhado de atroz ausência
Eu sei, isso é mais que um sinal
De que breve terá o ponto final.