A BARONESA NUA
No fim da minha rua há um castelo
De tijolos laranja e enorme fosso
Lá está a dama pela qual anelo
Sendo que sonhar é tudo que posso
Muitas vezes um vulto na janela
Ela aparece nua, a baronesa
Na mais alta das torres, qual estrela
E o redor masculino se retesa
Dele faço parte eu, aqui debaixo
Apenas um campônio de pés nus
Tão humilde quanto um reles capacho
Embasbacado com aquela luz
Eu sei que ela me vê e que morde os lábios
Nossos corpos são ímãs que se puxam
A saciar desejos nada sábios
Querendo saltar, mas não desembucham
A senhora das formas voluptuosas
Bem nascida e adestrada em atitudes
E o peão em meio ao mar de rosas
Nadando sem ferir suas mãos rudes
Se as convenções ruíssem neste instante
Reduzindo a pó toda hipocrisia
Este mundo jamais veria amante
Tão poderoso e com tanta alegria