TOQUE DE RECOLHER**

Há vida no planeta Terra.

Ordens, ondas, mares, marés,

células, bichos, matas e mortes.

Estranhas formas,

estranhos seres,

entre eles a feroz forma

de orgulhosa postura,

que a tudo retém, destrói.

Rói o solo, o subsolo com unhas e máquinas,

dentes e garras.

Tudo o que lhe cai às mãos se transforma.

Vira grana.

Há destinos traçados,

blasfêmias lançadas,

pudores e horrores

entre os doutores desta terra.

Pratos e panças cheias.

Tantos com pouco,

rostos rotos, restos,

réstias de luz.

Há ganas, garras afiadas.

navalhas, armas pesadas

varrendo ruas.

Lâminas e gargantas com sede.

Feras presas.

Há domínios, delírios,

sistemas armados

e sonhos domados.

Há vigilantes e sirenes,

gritos na noite vadia.

Tiros, periferia, chacinas,

facínoras,

gangues, guetos. É guerra

na terra de ninguém.

Estar forte e atento é tempo

pra não sucumbir nesse veneno.

Toque de recolher.

Tempo de resistir.