Demanda de Clones
Eu preciso urgentemente
de vários eus.
Ao mesmo instante
Eu quero escrever um texto
Eu quero poetizar
Eu quero modelar o barro
Eu quero pintar
e tantas coisas
eu quero
ao mesmo tempo.
Preciso me multiplicar
para fazer tudo
que meu Eu
quer de tudo.
Acelerem a Ciência,
pois preciso de clones de meu Eu.
Talvez assim
arrumo jeito
de fazer o todo.
Por que esta loucura em mim?
Talvez só uma vida não me basta.
Talvez como um cão marcando território
com fétida urina
para fazer valer minha existência
e dizer:
-Aqui estive!
L.L. Bcena, 02/06/2011
POEMA 549 - CADERNO: POEMAS AZUIS*
*Dedicado ao meu filho, Phill.
AZUL
Uma vanessa tropical travou na campânula
de uma ipoméia
o vôo oscilatório e helicoidal.
Dobra o quimono de franjas sinuosas,
marchetado e hachureado
com minérios de cobre:
aréolas, anéis, jóias concêntricas,
olhos de íris elétrica e de pupila enorme,
ocelos de um leque de pavão.
Sinto o perfume da flor nova,
com mais dois estames, buliçosos,
e quatro pétalas, de um esmalte raro,
molhadas nas tintas de céus fundos,
e cromadas com faiança das lagoas...
João Guimarães Rosa – in: MAGMA
PS- Phill,
observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).
Leonardo Lisbôa.