Meditações - Praia de Moreré

I

eu e ela e as ondas

balançávamos

embalados

pela voz de Caymmi

murmurando

canções praieras

refletida no mar

a lua tremeluzia

ela catava conchinhas

conchinhas de todas as cores...

"essa parece

tecido de renda..."

"essa como que imprimida

de estrelas..."

tudo parecia impregnado de eternidade:

as ondas, seu riso, nossas vozes misturadas

aos murmúrios do mar,

as embarcações vazias...

tudo parecia eterno como a lua,

as constelações milenares...

II

tu caminhava nua sobre o dorso das águas

eu avistava ao longe o cais, as velas

estrelas, as Três-Marias!... embarcações vazias...

calado. meditativo. pleno de tudo que me envolvia

já não procurava dizer o que não mais carecia dizer

necessário seria um outro idioma pra dizer do que vi

mudo, diante de tudo

descobri o qual pobre é a linguagem

que aprendi com os homens

não vai além da superfície das coisas:

no silêncio é que penetrávamos a fundo

cada coisa ali, vivente na praia...

além

mirávamo-nos e comungávamos calados

uma humilde verdade:

"quando os olhos se compreendem

as bocas se calam..."

ali

nada carecia dizer, era tudo nosso

em nosso silêncio mais compreensivo...

as ondas, os murmúrios

a lua que tremeluzia, as velas,

as embarcações vazias... tudo...

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 24/01/2012
Código do texto: T3458807
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