Meditações - Praia de Moreré
I
eu e ela e as ondas
balançávamos
embalados
pela voz de Caymmi
murmurando
canções praieras
refletida no mar
a lua tremeluzia
ela catava conchinhas
conchinhas de todas as cores...
"essa parece
tecido de renda..."
"essa como que imprimida
de estrelas..."
tudo parecia impregnado de eternidade:
as ondas, seu riso, nossas vozes misturadas
aos murmúrios do mar,
as embarcações vazias...
tudo parecia eterno como a lua,
as constelações milenares...
II
tu caminhava nua sobre o dorso das águas
eu avistava ao longe o cais, as velas
estrelas, as Três-Marias!... embarcações vazias...
calado. meditativo. pleno de tudo que me envolvia
já não procurava dizer o que não mais carecia dizer
necessário seria um outro idioma pra dizer do que vi
mudo, diante de tudo
descobri o qual pobre é a linguagem
que aprendi com os homens
não vai além da superfície das coisas:
no silêncio é que penetrávamos a fundo
cada coisa ali, vivente na praia...
além
mirávamo-nos e comungávamos calados
uma humilde verdade:
"quando os olhos se compreendem
as bocas se calam..."
ali
nada carecia dizer, era tudo nosso
em nosso silêncio mais compreensivo...
as ondas, os murmúrios
a lua que tremeluzia, as velas,
as embarcações vazias... tudo...
***