Poeminha destrambelhado
Quando nasci, um passarim destrambelhado
Desses que vivem cantando, disse:
- vá lá, Sabiá Duqueza, ser avoado no mundo!
E lá fui eu, desde a idade mais tenra
Tropeçando aos trambolhões,
Bombando nos boletins,
Errando pelas contra-mãos.
Nunca entendi as leis de Newton
Tampouco a Constituição: alheio a regulamentos,
Distraído por pores-de-sol, borboletas e cambacicas,
Piso leve o gramado orvalhado da praça que implica:
“É proibido pisar na grama...”
E lá me sento com outros avoados,
Gente da mesma espécie – a dizer coisas vagabundas
E sem futuro,
Calangueando pelas trilhas do cerrado,
Meditando na janela dos buzões abarrotados,
Especulando o sentido disso tudo, esquecendo depois...
E assim me avôo por esse mundo,
Se endividando em contas abissais,
Charles Chapliniando nos afazeres maquinais,
Invariavelmente escutando de meu pai:
“esse menino é troncho, não tem jeito...”
Torto, embeiçado e canhoto
Nunca abri direito uma latinha de ervilha...
Mas posso fazer quartetos em versos dodecassílabos
Emparelhando nas rimas...
Juro!
Pela poesia nossa de cada dia,
Pelos olhos esverdeados de Tashinha,
Pela minha vovó no chão estiradinha,
E pela luz desse sol que nos alumia!
***
ps: esse poeminha destrambelhado e sem futuro é um hino dedicado aos desajustados,
aos charles chaplins e amelies poulains da vida..."