Poeminha destrambelhado

Quando nasci, um passarim destrambelhado

Desses que vivem cantando, disse:

- vá lá, Sabiá Duqueza, ser avoado no mundo!

E lá fui eu, desde a idade mais tenra

Tropeçando aos trambolhões,

Bombando nos boletins,

Errando pelas contra-mãos.

Nunca entendi as leis de Newton

Tampouco a Constituição: alheio a regulamentos,

Distraído por pores-de-sol, borboletas e cambacicas,

Piso leve o gramado orvalhado da praça que implica:

“É proibido pisar na grama...”

E lá me sento com outros avoados,

Gente da mesma espécie – a dizer coisas vagabundas

E sem futuro,

Calangueando pelas trilhas do cerrado,

Meditando na janela dos buzões abarrotados,

Especulando o sentido disso tudo, esquecendo depois...

E assim me avôo por esse mundo,

Se endividando em contas abissais,

Charles Chapliniando nos afazeres maquinais,

Invariavelmente escutando de meu pai:

“esse menino é troncho, não tem jeito...”

Torto, embeiçado e canhoto

Nunca abri direito uma latinha de ervilha...

Mas posso fazer quartetos em versos dodecassílabos

Emparelhando nas rimas...

Juro!

Pela poesia nossa de cada dia,

Pelos olhos esverdeados de Tashinha,

Pela minha vovó no chão estiradinha,

E pela luz desse sol que nos alumia!

***

ps: esse poeminha destrambelhado e sem futuro é um hino dedicado aos desajustados,

aos charles chaplins e amelies poulains da vida..."

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 24/01/2012
Código do texto: T3458791
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