CANÇÃO DO BECO

sombras úmidas da lua seduzem pirilampos

pelas frestas frinchas falhas dos tijolos e argamassas

ante os olhos sáuricos das lagartixas cartesianas

feito o feitiço das luzes de um velho cinematógrafo

quebrado

nenhum fantasma revisitado

chegou sem muletas a este século coxo

somos homens de dentes farpados e sorriso frouxo

olhos de escorpião de quem não presta

sombras úmidas da lua poetizam a madrugada pubescente

enquanto um bêbado urina solenemente numa estátua solene

calhas e canos pingam uma felicidade inocente e vaporosa

sobre nossa dor estancada numa poça de barro

entre cervejas e bitucas de cigarros

um cheiro de anchova e chuva pelo chão de capim

embala as esperanças dos notívagos suicidas

tudo convida para o amor

tudo ovula com o amor

tudo esperma-se em amor

da janela do teu quarto

violoncelas a paisagem sangüínea de abril

José Martino
Enviado por José Martino em 13/01/2007
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