CANÇÃO DO BECO
sombras úmidas da lua seduzem pirilampos
pelas frestas frinchas falhas dos tijolos e argamassas
ante os olhos sáuricos das lagartixas cartesianas
feito o feitiço das luzes de um velho cinematógrafo
quebrado
nenhum fantasma revisitado
chegou sem muletas a este século coxo
somos homens de dentes farpados e sorriso frouxo
olhos de escorpião de quem não presta
sombras úmidas da lua poetizam a madrugada pubescente
enquanto um bêbado urina solenemente numa estátua solene
calhas e canos pingam uma felicidade inocente e vaporosa
sobre nossa dor estancada numa poça de barro
entre cervejas e bitucas de cigarros
um cheiro de anchova e chuva pelo chão de capim
embala as esperanças dos notívagos suicidas
tudo convida para o amor
tudo ovula com o amor
tudo esperma-se em amor
da janela do teu quarto
violoncelas a paisagem sangüínea de abril