BELEZA INCONTESTE
Vale o sal e o suor da carne
Em mim derramados como sangue fanado
Das veias abertas e dignificadas.
Vale a labuta que enrubesce o ego flagelado
E o endereço da resposta mastigada.
Todos os conflitos se encontram perdidos
Dentro de cada ser, de cada herói cotidiano.
A vadiagem incauta dos dias
Mastigam as horas de sono e nos tornamos zumbis
Modernos e cautelosos.
Vale o pão e o vinho, o leite sagrado
Num leito de maternidade.
Vale os epítetos e o panteão grego
Na nomenclatura dos nossos coadjuvantes,
Porém imprescindíveis peças do quebra-cabeça
Desse labirinto chamado vida.
Vale a palavra da mãe com a sua verdade intrínseca.
Vale um beijo roubado
Com um olhar permitido.
Vale ser apenas um poeta medíocre,
Mas não menos digno de ter o direito
De escrever um verso sem rima.
Vale um amor distante
Que esteja no ápice do Planalto
E no centro do meu país,
Mas que esteja tão presente no cerne do meu coração.
Vale esconder nossa coragem na ponta da lança de Ares
E resgatar cada derrota pela covardia.
Vale a jurisprudência na taba de um índio
E o idílio das hegemonias que norteiam
Os pastores e as canções pastoris.
Vale deleitar o amor na cama
Dos criadores de surpresas e donos
Do afeto inacabado.
Vale subjugar o verbo e idealizar
O desejo latente na alma.
Vale ser escravo das garras do amor
Que derrama pelas bordas da minha vontade
De troca.
Vale ser apenas eu
Na costumeira rotina de escrever desalinhadamente
À musa dos meus dias
Como um interregno que nos envolve
No lídimo laço de candura.
Vale a circunspeção que derruba cada ato ignóbil.
Vale a beleza com que cada partícula de simplicidade
Cobre a vida e o meu viver.