BELEZA INCONTESTE

Vale o sal e o suor da carne

Em mim derramados como sangue fanado

Das veias abertas e dignificadas.

Vale a labuta que enrubesce o ego flagelado

E o endereço da resposta mastigada.

Todos os conflitos se encontram perdidos

Dentro de cada ser, de cada herói cotidiano.

A vadiagem incauta dos dias

Mastigam as horas de sono e nos tornamos zumbis

Modernos e cautelosos.

Vale o pão e o vinho, o leite sagrado

Num leito de maternidade.

Vale os epítetos e o panteão grego

Na nomenclatura dos nossos coadjuvantes,

Porém imprescindíveis peças do quebra-cabeça

Desse labirinto chamado vida.

Vale a palavra da mãe com a sua verdade intrínseca.

Vale um beijo roubado

Com um olhar permitido.

Vale ser apenas um poeta medíocre,

Mas não menos digno de ter o direito

De escrever um verso sem rima.

Vale um amor distante

Que esteja no ápice do Planalto

E no centro do meu país,

Mas que esteja tão presente no cerne do meu coração.

Vale esconder nossa coragem na ponta da lança de Ares

E resgatar cada derrota pela covardia.

Vale a jurisprudência na taba de um índio

E o idílio das hegemonias que norteiam

Os pastores e as canções pastoris.

Vale deleitar o amor na cama

Dos criadores de surpresas e donos

Do afeto inacabado.

Vale subjugar o verbo e idealizar

O desejo latente na alma.

Vale ser escravo das garras do amor

Que derrama pelas bordas da minha vontade

De troca.

Vale ser apenas eu

Na costumeira rotina de escrever desalinhadamente

À musa dos meus dias

Como um interregno que nos envolve

No lídimo laço de candura.

Vale a circunspeção que derruba cada ato ignóbil.

Vale a beleza com que cada partícula de simplicidade

Cobre a vida e o meu viver.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 13/01/2007
Código do texto: T345853