[Vastidão]
[Poema desentranhado de M. Kundera “A Vida está em outro Lugar” – pág 43 - ... como se todas as ideias tivessem existido aqui embaixo desde sempre sob uma forma definitiva e que nós não tivéssemos feito outra coisa senão toma-las emprestadas como numa biblioteca pública.]
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Num vasto mar sem fundo,
um velho mar de idéias heterogêneas, é verdade,
sobrenadam as minhas agitadas terminações nervosas
em suas incessantes captações.
Sem ironia: na “suave declividade do ocaso”,
rebanhos de pensamentos meus,
nem tão plácidos como sugere a minha fala,
apascentam-se na complexidade macia da paisagem.
Tenho a minha particular maneira de ser ferido:
ajeito no lombo cansado as trelas
da minha parcela da carga do mundo,
ergo o olhar sobre um horizonte sem esperas,
e só então venço escrúpulos mesquinhos,
só então, cingindo-me de alguma ousadia,
ponho-me a modo de escrever sobre a morte.
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Aprendi com Mario Quintana: a gente não deve datar os poemas... nunca! Também, um poema vai sendo reformado, vai, como as cobras, trocando de pele, mas sem perder a essência!
Contudo, essa exatidão nas coisas, essa mania furibunda da colocar data em tudo, nas roupas [hoje mesmo datei 3 camisas novas...], nos livros, no tubo de dentifrício que acabo de iniciar, nas ferramentas, nas madeiras... não me larga!
Por isso, sem pensar em TOC, e lembrando que eu sou um físico, ainda sou existencialista, e portanto, não tenho inconsciente,
aí vai:
[Penas do Desterro, 05 de agosto de 2008]