[Vastidão]

[Poema desentranhado de M. Kundera “A Vida está em outro Lugar” – pág 43 - ... como se todas as ideias tivessem existido aqui embaixo desde sempre sob uma forma definitiva e que nós não tivéssemos feito outra coisa senão toma-las emprestadas como numa biblioteca pública.]

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Num vasto mar sem fundo,

um velho mar de idéias heterogêneas, é verdade,

sobrenadam as minhas agitadas terminações nervosas

em suas incessantes captações.

Sem ironia: na “suave declividade do ocaso”,

rebanhos de pensamentos meus,

nem tão plácidos como sugere a minha fala,

apascentam-se na complexidade macia da paisagem.

Tenho a minha particular maneira de ser ferido:

ajeito no lombo cansado as trelas

da minha parcela da carga do mundo,

ergo o olhar sobre um horizonte sem esperas,

e só então venço escrúpulos mesquinhos,

só então, cingindo-me de alguma ousadia,

ponho-me a modo de escrever sobre a morte.

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Aprendi com Mario Quintana: a gente não deve datar os poemas... nunca! Também, um poema vai sendo reformado, vai, como as cobras, trocando de pele, mas sem perder a essência!

Contudo, essa exatidão nas coisas, essa mania furibunda da colocar data em tudo, nas roupas [hoje mesmo datei 3 camisas novas...], nos livros, no tubo de dentifrício que acabo de iniciar, nas ferramentas, nas madeiras... não me larga!

Por isso, sem pensar em TOC, e lembrando que eu sou um físico, ainda sou existencialista, e portanto, não tenho inconsciente,

aí vai:

[Penas do Desterro, 05 de agosto de 2008]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 23/01/2012
Reeditado em 23/01/2012
Código do texto: T3457207
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