A mosca

Frente à mesa, olhando aquilo que somos e não queremos admitir: a mosca presa no vaso de vidro.

Ficamos ali, impotentes sabendo a verdade: somos a mosca.

E tudo é tão rápido e visto mesmo de dentro de um estado de torpor.

Eternizamos aquele instante que sintetiza tantas perguntas que nos fazemos e reconhecemos ali as respostas, claras, objetivas, cortantes.

Chega a sufocar a sensação de desesperar-se tentando encontrar a saída que parece não existir.

Mas existe, o vidro é frágil e mais frágil é a mosca. E covarde.

Sim, trata-se de um inseto imundo em sua covardia. E que está

somatizando em função de uma visão planejada.

Ali, solitária, ela se sente de alguma forma segura, mas não desiste de sair, mesmo que as asas lhe pesem tanto.

As asas estão molhadas, apodrecidas e somente o sol pode salvar aquele bicho asqueroso cuja única força e alguma beleza é esta luta em busca da saída.

Mas, e o que seria do lado de fora? Uma mosca outra vez, pois nasceu mosca e a esse detalhe está aprisionada, ainda que fora do vidro.

Seu sonho seria transformar-se em mariposa ou em um pirilampo. E brilhar na solidão da noite. A noite é uma condição e não uma parte do dia.

Perde a batalha a mosca. Cai morta, presa, inútil e suja. Mas sonhou em ser luz e liberdade.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 22/01/2012
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