[O Desejo Amordaçado]
Perdoa-me:
se o tempo já me levou,
e se, inebriado pela tua voz macia,
eu permiti impossibilidades vaguearem
em meus lábios desejosos dos teus,
é que, ao contrário do que eu julgo,
eu não estou, de todo, morto...
Vindas num transporte de ilusão,
as palavras ateiam fogo ao corpo,
mas semeiam apenas confusão...
o corpo lateja, vibra encantado,
mas a seguir, se perde, triste...
E nas veias, o desejo negado pulsa,
pulsa, e se amortece, e se estiola,
e morre em nós cegos da razão —
essa mordaça implacável!
[Desterro, 21 de janeiro de 2012]