[O Desejo Amordaçado]

Perdoa-me:

se o tempo já me levou,

e se, inebriado pela tua voz macia,

eu permiti impossibilidades vaguearem

em meus lábios desejosos dos teus,

é que, ao contrário do que eu julgo,

eu não estou, de todo, morto...

Vindas num transporte de ilusão,

as palavras ateiam fogo ao corpo,

mas semeiam apenas confusão...

o corpo lateja, vibra encantado,

mas a seguir, se perde, triste...

E nas veias, o desejo negado pulsa,

pulsa, e se amortece, e se estiola,

e morre em nós cegos da razão —

essa mordaça implacável!

[Desterro, 21 de janeiro de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 22/01/2012
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3454513
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