RESPOSTA A UM JOVEM RAPPER - de um velho repentista sem métrica
Certo dia o jovem, despertado para as rimas, na periferia, queria saber como poderia se tornar um bom poeta do rap, para se dar bem nas batalhas. Como fazer versos consistentes, que não ficassem só no lamento? Ele me pediu um toque, e eu lhe disse isso num repente:
Pra fazer rima de verdade
Rima de rap, de repente
Rima de todo porte
Tem que ter idéia e sonoridade
Não é preciso ser forte
E nem ser valente
É ter na mente
Muito sonho
Conhecimento
E na vida atitude
Para criar com liberdade
E virtude
Pra fazer rima real
Contra a mediocridade
Verso consistente
Pra mexer com o sistema
Na moral
Tem que distinguir o bem do mal
É preciso saber que nada é de graça
Na vida
Seja no campo ou na cidade
Que tudo tem dono
Ou custa caro
O que se come, a água, o sal
Saúde, educação
Quando se nasce
Quando se morre
Tudo é para o Estado
E para o capital
Que devolve muito pouco
Ou quase nada
Pra quem vive na real
E fica sempre por baixo
Nesta porra da vida social
Pra fazer rima forte
Bulir nas estruturas
Cutucar os insolentes
Não é preciso ter dinheiro
Nem ser intelectual
Nem tão pouco deliquente
Pra fazer rima quente
Tem que ter o que dizer
Escrever de forma diferente
Com estilo e sonoridade
Sem ficar só no choro
E lamento
Tem que ter personalidade
Pra fazer rima de rap
Rima concreta
Rima esperta
Com poesia e encanto
É preciso ter no peito
Liberdade, atitude
Respeito a quem veio antes
Ler os poetas de outrora
E de outras paragens
Os poetas de cordel
Menestréis e mestres ancestrais
Aí é só ir em frente
Soltar a verve e a inspiração
E tudo sairá consistente
Natural
Pra fazer rima certa
Todo assunto é tema
O amor, a felicidade
A revolta
Pode ser do bem, pode ser bom
Um aríete contra o sistema
Tem que ter o dom
É certo, aí fica fácil
Mas pode dar duro e aprender
Ler, Ler e praticar
É só ter vontade, ir em frente
E se tiver um parceiro
Fica de prima
Sai até uma canção
É só ter a rima
A voz e toda a sinceridade
Aí.