CANOA DO TEMPO

Na praia deserta,

brincam de esconde-esconde

as Maria-Farinhas.

No espelho da areia,

duplica-se o silêncio,

reflexos de saudades de um paraíso distante.

A tarde se aquieta.

Ondas preguiçosas acariciam a areia.

Surfam as tatuíras. E depois se escondem.

Uma canoa abandonada.

Parado, o tempo. As sombras

se espicham. Alonga-se o meu pensamento.

Lentamente, o sol se põe.

Uma lua enorme e redonda,

emerge do mar imenso clarão.

Nas rendas de espuma branca

bordam-se reflexos

irisados de luz.

Pleno, o momento.

Em silêncio, com olhos de dentro,

medito.

Contemplo a beleza

de um lar prometido,

escondido dos olhos humanos.

Ondas de certezas vão e vem,

lambendo os meus pés.

Solitude, comunhão com o além.

(este poema é uma republicação... na versão anterior chamava-se CONTEMPLAÇÃO...)

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ORELHA DE PAU

Escuta os mistérios

que o vento murmura

na pele dos troncos

em voz de sereia.

E sabe da seiva a ternura

que corre na árvore, em sua veia.

E escuta os grilos e os sapos

em suas ritmadas serenatas...

E quando dormem os pássaros,

escuta das estrelas a solidão...

E ouve o silêncio das matas,

e sereno e orvalho e lua e amplidão.

Escuta o passo das formigas

e da cigarra ouve as cantigas.

E também escuta a brisa

soprando pelas grotões

quando a face da pedra alisa,

entoando suaves canções...

Orelha de pau escuta os mistérios da vida.

Enfim, escuta coisas que até Deus duvida.

(poema inspirado em haicai XXVI de Ana Flor do Lácio)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 20/01/2012
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T3451855
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