[Emparedamento]
Por dias e dias, meses e meses,
e até anos e anos a fio... o processo era assim,
como se fosse um açoite implacável...
ou antes, um açoitamento de todo
o corpo de meus sentimentos!
Um flagelo de tal maneira intenso e constante,
que acabou por me ensinar
[pedra a pedra, todas cimentadas com finos rejuntes]
que eu deveria comparecer, de olhos bem abertos,
ao enterro do amor assassinado
por uma requintada desistência, marcada,
sem trégua, por sofisticadas justificativas filosóficas, analíticas...
E então, emparedado por um muro de pedras frias,
restou apenas a este ser vivo-morto,
o espanto de olhar a vida se esvair em nada!
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[Penas do Desterro, 20 de janeiro de 2012]