Transmutação Substantiva
A xícara
- cafezinho
tão pequenina
que só cabe
mesmo diminutivos.
tão azul
- entre o ultramar e o cerúleo
T.R.A.N.S.L.Ú.C.I.D.A.
Parecendo a materialização
pequena de um dia de verão.
Se colocar leite
lembra o céu com nuvem.
Se colocar água,
um plácido e calmo mar.
É um pecado enche-la
com negro líquido.
Só se for café-com-leite.
Aí se transforma em orla
onde o oceano lambe a areia.
L.L. Bcena, 02/06/2011
POEMA 545 – CADERNO: POEMAS AZUIS*
*Dedicado ao meu filho, Phill.
AZUL
Uma vanessa tropical travou na campânula
de uma ipoméia
o vôo oscilatório e helicoidal.
Dobra o quimono de franjas sinuosas,
marchetado e hachureado
com minérios de cobre:
aréolas, anéis, jóias concêntricas,
olhos de íris elétrica e de pupila enorme,
ocelos de um leque de pavão.
Sinto o perfume da flor nova,
com mais dois estames, buliçosos,
e quatro pétalas, de um esmalte raro,
molhadas nas tintas de céus fundos,
e cromadas com faiança das lagoas...
João Guimarães Rosa – in: MAGMA
PS- Phill,
observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).
Leonardo Lisbôa.