vou embora
vou embora
enquando tudo dorme
durante a noite escura
enquanto todos se escondem
como fazem sempre
estranhas criaturas
que desaparecem no sereno
não quero despedidas
não quero deixar acenos
pistas
rastros enormes
nenhum sinal de vida
como se eu quisesse voltar
quero me perder de vista
não quero que ninguem me veja
não quero que ninguem se lembre
principalmente quem não me quer
quem não me deseja
vou embora
antes de chegar a chuva
antes de amanhecer o dia
deixo lembranças
saudades
viuvas
saio com as mãos abanando
vazias
arrastando o corpo
pelos meus corredores
mesmo sentindo no peito
desespero
desconforto
descontrole
vou embora
por um caminho incerto
provavelmente sem volta
vou embora
carregado pelas tempestades
pelas ventanias
revoltas
vou por aí
desconstruindo
o que me resta da poesia
enquanto a minha vida inteira
se espalha de mim
e se solta