Jóia

(para tia Lucinha)

Talha-se do metal

um brevelíneo poema.

Um haicai

que se enrosca

no dedo.

Um par de rimas

que brincam de brincos.

Um soneto feito círculo que se lacra em filigree:

uma gargantilha, um colar de voltas.

O ouro, editado a marteladas

e ternamente polido

vai cedendo as suas metáforas.

Gemas devolvem brilhos—

tal qual sílabas, lapidadas.

Jóias, como versos,

varam tempos e universos—

Atravessam oceanos, emendam gerações.

Fundam impérios, parem nações.

No fundo eu e você

compartilhamos um único ofício,

prólogo da alquimia:

a poesia,

e sua prima ferramenteira,

a ourivesaria.