TINHA QUE CONTINUAR... (para minhas filhas)
Luto com energia
para ver sair do chão
o alicerce dessas meninas.
Ando agora meio torto
para a direita, conduzo nos ombros
metade da vida percorrida, os outros
cinqüenta por cento escoram-me de pé.
Esta pele manchada
é exposição demais durante
sol escaldante. Tinha que continuar...
Essas moças, para estarem assim,
levaram 2/3 da minha asa, 2/3 das minhas
noites e fizeram brilhar dia e noite minha casa!
E esses gritos e algazarra que entediaram
um homem de meia idade são carinhos na
minha alma; sopro de brisa no meu semblante.
Casa eternamente renovada, novas caminhadas...
Plantei bem as sementes da vida.
Livre ouviria o sussurro do mar, canto
de gaivotas, conheceria novos caminhos...
Mas não teria o choro nostálgico de bebês,
nem o sorriso puro de um anjinho solto na casa!
Fui sempre o esteio de aroeira
na vida dessas inocentes. Também soube
ser ternura, a palavra dura, mostrei-lhes que
existe o “sim” e o “não”. Soube ensiná-las sobre
limites. Também que é preciso dar o primeiro passo...
Luto com energia
para ver sair do chão, agora,
o alicerce dessas minhas meninas!