DORES...
Convivi com dores
descomunais, não que doíam no meu corpo;
por isso que mais me doíam. É que eu não podia
nem curvar-me para aliviar. Não podia num sorvo
d’água tentar tapar o fluxo da dor nas naquelas veias...
Assim foi que meu rosto tornou-se
estéril e com esta aparência de deserto.
Logo eu que me saciava nas águas doces dos
velhos poetas, que percorri os trilhos de Minas
com Drummond, que beberiquei uísque com Vinícius...
Até que um dia choveu chuva fina
na cara da dor que doía em outro, mas
que me consumia mais que vermes em carne
podre, e aqueles pingos frios me ditaram versos
tortos e fizeram nascer estes poemas meio mortos.
Convivi com dores
terríveis, fatigantes, quase eternas.
Assim foi que meu rosto tornou-se
estéril e com esta aparência de deserto!