DORES...

Convivi com dores

descomunais, não que doíam no meu corpo;

por isso que mais me doíam. É que eu não podia

nem curvar-me para aliviar. Não podia num sorvo

d’água tentar tapar o fluxo da dor nas naquelas veias...

Assim foi que meu rosto tornou-se

estéril e com esta aparência de deserto.

Logo eu que me saciava nas águas doces dos

velhos poetas, que percorri os trilhos de Minas

com Drummond, que beberiquei uísque com Vinícius...

Até que um dia choveu chuva fina

na cara da dor que doía em outro, mas

que me consumia mais que vermes em carne

podre, e aqueles pingos frios me ditaram versos

tortos e fizeram nascer estes poemas meio mortos.

Convivi com dores

terríveis, fatigantes, quase eternas.

Assim foi que meu rosto tornou-se

estéril e com esta aparência de deserto!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 18/01/2012
Reeditado em 18/01/2012
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