Vamos para a Praia?

Já estava anoitecendo

quando ele chegou,

tomou-me pela mão

e assim me falou:

 

“Vamos para a praia?

À noite é gostoso andar na areia

ouvindo o barulho das ondas

quebrando na beira!”

 

Tão carinhosa

me soou sua voz,

que não resisti

pra ficar com ele a sós.

 

E naquele instante

seu convite aceitei,

e com ele, alegremente,

pela praia eu andei.

 

Com seu braço em meu ombro,

íamos nós caminhando,

parando algumas vezes,

para o Mar ficar olhando.

 

As ondas vinham e molhavam,

nossos pés ali na areia,

e o Mar pra nós murmurava:

“Fiquem aqui a noite inteira!”

 

Não resistindo ao convite

que ele pra nós fazia,

ficamos ali na praia

até amanhecer o dia.

 

E durante a noite toda

para mim ele cantou

e o Mar, através das ondas,

também o acompanhou.

 

As ondas sempre chegavam

ali pertinho de nós

e assim a noite inteira,

ouvimos do Mar a voz.

 

E quando o sol foi surgindo

com sua força total,

vi nos seus olhos um brilho

que jamais vira outro igual.

 

E olhando para mim,

com aquele brilho no olhar,

ele disse que era assim

que sempre sonhara amar.

 

O Mar nesse instante

pra uma onda perguntou:

“Não é também assim

que ela sempre sonhou?”

 

Uma onda gigantesca

nesse momento surgiu

como que enciumada

de tudo que ali ouviu.

 

Vi o Mar se enfurecer

com aquela onda estranha

e tudo então revolver

com sua força tamanha.

 

Assustada com a mudança

que via diante de mim

a ele me agarrei

e o ouvi dizer assim:

 

“O Mar está furioso

porque não foi compreendido

por essa onda gigantesca

que chegou com tal ruído.

 

Mas pode ficar tranqüila

que isso logo passará,

você está em meus braços

e protegida será.”

 

Me sentindo dominada

por uma forte emoção

era como se dentro de mim

batesse o seu coração.

 

E enquanto seus fortes braços

me mantinham abraçada

pouco a pouco me acalmava

e não pensava em mais nada.

 

E como profetizara,

o Mar logo se abrandou

quando a onda gigantesca

na praia se quebrou.

 

Olhando para o Mar

como se hipnotizada

Eu o ouvi murmurar:

“Isso que viu não é nada!”

 

Sem querer acreditar

naquilo que eu ouvia

 a ele me abracei

enquanto ele sorria.

 

Pude então perceber

que pra ele era normal

aquilo que para mim

era um espetáculo sem igual.

 

Ele tentava me explicar

tudo que eu não entendia

e cada vez mais segura

com ele eu me sentia.

 

E no instante mais sublime

quando ele me beijou

alguém entrou em meu quarto

 e... me acordou!

 

* * * * *

Do livro “Simplesmente Poemas” – Pág. 142 – Irene Coimbra