Le tombeau de Voltaire

E pouco afeito às delicadezas,

tão licenciosamente penso,

enquanto de tons pastéis encubro

as pontiagudas farpas da pena.

Ergue-se a sobrancelha esquerda,

quando um olho observa o santo,

e outro observa as saias que passam,

indo tão apressadamente aos aposentos

onde não moram nem a fé nem virtude.

Com magníficos engenhos da dissimulação,

encimada pelas longas e curiosas madeixas,

trago reis pelo cabresto do poema galante,

vendo passar as carruagens cor de amaranto,

enquanto em febre queimam corações adolescentes.

Um arrepio.

E se não me interessa o passo ligeiro,

é que melhor se dão, com certeza

aos lacaios e servos resignados.

Uma tristeza.

São seis braços? São moléstias da visão?

Com uma das mãos escrevo, e com outra

turvo as linhas que descrevem a farsa.

E se riem os tolos, os dementes e coléricos,

é o sucesso de meu intento escuso,

de fingir que a noite é cheia de estrelas,

e que no trono repousa o escolhido de Deus.