PLENITUDE
Senhor desce da cruz, da minha cruz.
Sim, porque a cruz que abraçaste
E da qual tu pendes não é tua.
Ela foi projetada no jardim do éden
(que ironia!),
Quando os meus ouvidos se abriram
À voz da ajuda adequada que me deste,
E eu acreditei.
Árvore do meio do jardim,
Que deitando raízes rumo ao rio
Fortalecia-se e revigorava caule e folhas,
Sem nunca deixar de produzir frutos, e
Cuja beleza não se traduzia por palavras,
Mas pelo silêncio contemplativo
Do coração encharcado pela graça;
Agora, despojada das vestes,
Não passava de dois galhos secos,
Sem vida.
Fui eu que a despojei, fui eu que a desfolhei.
Desce da minha cruz!
Ela foi transportada
Do paraíso até o monte calvário
Pelo meu pecado e pelas minhas transgressões.
Nutrida pelo orgulho e pela desobediência,
Seu peso tornou-se insuportável, insustentável.
(ah! Simão de cirene...).
Desce da minha cruz, senhor!
Desce da minha cruz.
E teus olhos se fixam nos meus,
E meu coração acolhe a tua voz:
"Pai, perdoa-lhe!"... E continuas:
"Filho, a tua cruz é tua, mas eu a assumi.
Foi para isto que eu vim ao mundo.
Desci do pai e me fiz um como tu,
Sujeito ao que tu és sujeito,
Humanamente limitado
- apesar de Deus -
Para reconciliar a criação e redimi-la.
Sem a cruz não há redenção.
A tua-minha cruz é o preço do resgate
Que não tem preço,
Pois meu sangue é o sangue do amor
Sem medida e sem limites
Que derramei por ti e pelo mundo inteiro.
Deixa-me ficar na cruz,
Vale a pena morrer de amor!
São apenas três horas, nada mais.
Depois... Depois mais dois dias
E o mundo verá, e tu hás de entender
Que não existe páscoa sem dor.
E somente assim
Não haverá mais luto, nem pranto.
Eu enxugarei todas as lágrimas
E serei tudo em todos.
Só então te direi:
Agora, toma a tua cruz
E segue-me".