SETE ESPIGAS
A lua em paciente transparência
segando devagar a seara azul;
o vento beliscando o lado sul
das folhas dum outono em indulgência:
semeiam-me colheitas das memórias
que recolho nos silos de dezembro,
e no cair do sol ainda lembro
como as fomes não foram irrisórias,
como as fases não foram só crescentes,
como as chuvas não chegaram a ser rio,
só orvalho no cio das nascentes.
A lua já em si opalescência,
o vento rebrilhando a folha em brio
como sol que não perde a florescência:
demoram-me impressões depois do olhar
e fazem-me ter pressa de ficar...