Poemeto:palavras e pensamentos de areia

Belo Horizonte, 30 de setembro de 2006
Poemeto
Clevane Pessoa de Araújo Lopes

para Efigênia Coutinho

Minhas palavras de areia tornadas vidro:
o cotidiano, translúcido e mero,
a gota de lágrima petrificada,
pendurada ao pescoço, num fio de luz,
o finíssimo e frágil que cobre a lâmpada
e atrai a dança das mariposas
a cúpula do candieiro, embaçado
pelo escuro ar do querosene...
A vidraça da janela,úmida e protetora,
por trás da qual, vagueia meu olhar de poetisa...
A redoma que evita
a poeira sobre a obra de arte...
Os óculos que renovam e possibilitam
olhares sobre o mundo real...
A tela do Pc, que abre portas
de infinitas possibilidades...
A jarra e o copo de água ,
a seringa que transporta
o medicamento da ampola ao corpo,
o corpo vítreo no globo ocular,
as lentes de contato,
as vitrines que apresentam os produtos...
As asas dos anjinhos de enfeite
a simular cristal,
a taça onde onde borbulha o champagne
o espelho de duas faces,
o colorido murano,
tantas transparências
e luminosidades
que preciso abrir em ondas na água
de profundo lago,
em leque, no organdi bordado dos meus sonhos,
nas pétalas dessa rosa da Poesia,
que freme ao vento da inspiração
e de vez em quando voam ,
papilonáceas,
a conhecer outros jardins...

E pensar que de milhares
de grãozinhos rebrilhantes,
areia de deserto ou areal ao mar,
de meus pensamentos ínfimos
ante a grandezas do Alto,
brotam meus versos, trans/forma/dos
para que os apresente ao Mundo...


Clevane Pessoa de Araújo Lopes.
Belo Horizonte, 30 de setembro de 2006

Do livro ;Cantigas de Ser Mulher

Publicada, originalmente , em 
http://www.saladepoetas.eti.br/setembro/clevane/index5.html
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