FALSETE

Nasci com fingimentos de saudades,

Dessas que nascem dos raios da Aurora,

Das tintas e tons do Ocaso.

É a razão desse simular, zigue-zague

Cambaleando firme a cadência

Passo a passo.

Disfarço-me de mim para me desmascarar.

Subo ao palco e me desnudo,

E revisito minha hereditária carapaça.

Bem sirvo às carapuças!

Translúcido e verossímil faço véu meu avatar.

Tenho em casa um velho pedaço de espelho,

que se impõe a refletir

cada dia novos embustes.

Sigo o roteiro, em que cada ardil

é um falseio verdadeiro

de falsete gravemente sutil.

E executo uma antiga valsa, para um antigo monólogo falso.

Nesse enredo de que sou cativo, faço-me trapaça

Blefando meu próprio jogo, desfio trapos para me enredar.

Agudiza a miragem do falsetear do soprano,

Imito saber começo e fim,

semelhante uma trama.

E tramo um drama,

Pra fazer comédia no meu camarim.

Gilberto Ricardi
Enviado por Gilberto Ricardi em 12/01/2012
Reeditado em 26/03/2012
Código do texto: T3436869
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