FALSETE
Nasci com fingimentos de saudades,
Dessas que nascem dos raios da Aurora,
Das tintas e tons do Ocaso.
É a razão desse simular, zigue-zague
Cambaleando firme a cadência
Passo a passo.
Disfarço-me de mim para me desmascarar.
Subo ao palco e me desnudo,
E revisito minha hereditária carapaça.
Bem sirvo às carapuças!
Translúcido e verossímil faço véu meu avatar.
Tenho em casa um velho pedaço de espelho,
que se impõe a refletir
cada dia novos embustes.
Sigo o roteiro, em que cada ardil
é um falseio verdadeiro
de falsete gravemente sutil.
E executo uma antiga valsa, para um antigo monólogo falso.
Nesse enredo de que sou cativo, faço-me trapaça
Blefando meu próprio jogo, desfio trapos para me enredar.
Agudiza a miragem do falsetear do soprano,
Imito saber começo e fim,
semelhante uma trama.
E tramo um drama,
Pra fazer comédia no meu camarim.