[do Naufrágio, diz-se]

Apresentando O Transversal

“La Folie, Lydia the Tattooed Lady, dos irmãos Marx,... das viagens, das estações do ano, das partidas e de alguns regressos...”

Rasgam-se as velas,

como albatrozes voam mais alto,

mais longe,

e do vento que refresca

se amaldiçoa se teme desconhecido

além-mar,

desfazem-se sonhos uma vez criados,

pesadelos que se reúnem num circulo

de deuses irados, sombras

de tão salientes os bojadores,

cantam anjos negros, diz-se,

e as baleias submergem.

Gritam-se suplicas,

das promessas e das piedades

enfeitam-se os mastros, que rangem

como uivos do lobo negro enquanto

se despedaçam engolidos

pelas ondas sopradas a norte,

sacrificam-se no mar os homens,

agarrados a nadas, as redes

enrodilhadas de tanta

riqueza antes saqueada,

aprisionam os corpos que mergulham

sem regresso.

e quando o que resta de madeira

se desfaz contra as rochas,

laminas afiadas como lanças,

fecham-se os olhos

tudo escurece de vez.

Boiam os restos dos orgulhos,

da pilhagem,

na alvorada que raia,

as baleias voltam a emergir,

sonolentas,

dos anjos negros nem sinal, diz-se,

os que sobreviveram quis o mar

clemência,

olham infinitos.

Uma mulher chora, deitada no areal,

o mar que tudo lhe deu,

o mar que tudo lhe tirou,

acaricia-lhe o corpo.

Nkisi
Enviado por Nkisi em 11/01/2012
Código do texto: T3434860
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