A IGREJA QUE CRESCE
No recôndito da minha memória
existe registrada uma história
de singular encantamento.
É como o folhear de antigo álbum de fotografia,
transparecendo a cada imagem gravada na retina
o caminhar da igreja menina que nasce
e ao império do mal desafia.
Foi nesse tempo remoto
que luziu o evangelho
no lar de Nilo e Antonieta.
A igreja nascia sem recursos.
Faltava até caderneta
para a escola dominical...
Poucas dezenas de intrépidos heróis da fé
entoavam alegres louvores.
A cada hino, cada meditação, cada prece,
vislumbravam num ainda difuso horizonte
a esperança da igreja que cresce.
“O alicerce desta igreja, levantemos sem temor”.
Um desafio incontido que se agiganta,
um sonho que cada coração acalanta.
É Pedro. É pedra. Pedra de esquina,
Pedra angular que o salvo não rejeita.
Falta tudo, falta a terra.
A fibra pelo objetivo comum levanta recursos.
A oração do justo ao Deus do solo,
água e ar, uma certeza encerra.
É terreno comprado em Porto da Madama,
é terra, é pedra, pedra fundamental.
Vai surgindo o templo,
selando a aliança divina
de prevalência sobre as portas do inferno.
E a igreja muda, sem mudar a receita
de anunciar Cristo e seu convite terno.
A igreja que cresce não se apequena
na construção da casa terrena.
Vira o traço, amassa a massa,
mete o prumo, passa a trena.
Eram dízimos, ofertas, esforços paralelos
que levavam até os meus dominicais caramelos...
Caminha a grei por seus pés,
seguindo os passos do mestre,
avessa às intempéries e revés.
“Chicão”, de colher na mão,
mistura cimento, suor e oração
e o concreto é estendido.
José Leandro faz a pregação,
visita, visita, visita.
E mais um pecador arrependido.
Mas o revés vem
em maléfica onda tempestuosa
que não se contém.
Horda do mal em devaneios
fazendo seus passeios pelo delírio da fé,
quais aves de arribação em vôo incerto
para o paraíso terreal.
A grei se eriça, paga o deságio, vence a liça.
Fica de pé, firmada em Cristo, seu apanágio.
“sobre ti não prevalecerão do inferno, as portas”.
Muitos nomes a mente já não anota.
Como esquecer Manoel Lima e Carlota,
a Bíblia russa de Nicon,
os solos do japonês Kimi Shibon,
as histórias do índio Manoel Vicente,
Aldinha, largando a brincadeira,
para declamar Mário Barreto França
do alto de uma cadeira...
A igreja que cresce está contente.
Segue a trilha do zelo
de Otília e Jovenilha.
Exulta ao receber seu ministro,
lembro-me bem disso...
Era um jovem esguio que andava,
e às vezes capotava, de Jipe e Rural.
Investido no Ministério Santo,
repete há tres décadas
que “o diabo senta no último banco”.
E a igreja que cresce rompe o tempo,
firmada em Cristo, na sã doutrina.
Sacoleja de alguns o desalento,
de outros, a apostasia,
as lições bíblicas ensina.
É a noiva do Senhor que se atavia,
convicta da vitória no grande e final dia.
Enfim, o templo ainda inacabado
recebe a turba juvenil das escolas populares.
Professoras abnegadas, de flanelógrafos fincados,
contam histórias de Davi, Moisés, Sansão,
para atentos olhinhos arregalados.
A igreja que cresce se renova, metamorfoseia.
Cresce a mocidade, crentes de várias idades
unidos no partir do pão, no memorial da ceia.
Vêm seminaristas,
Nery Camargo, Otoni, Jefthe,
Silas, Othon, Batista Neto, Almir,
Noé, José Maria, João, Aldevino,
todos na senda do plano divino.
Vêm iberistas,
Celina, Aldair, Edir, Antônia,
Vêm corais, duetos, quartetos
Missionário, Inspiração, Semeadores da Paz.
Vêm instrumentos variados,
Manoel Estevão com seu saxi desafinado,
o pistão do Benody solta notas e ar,
o requintado sopro do clarinete de Valdir,
até o violão do Norival e a sanfona do Valdemar...
São histórias pra contar em profusão,
pela sempre doce e suave música da salvação,
testemunhadas sempre pelo legendário harmônio
de Edivaldo, Edir Maria, Lédia,
e pelo piano de Enedir e Vital.
Volvo à história da igreja que cresce.
Cada culto, eu sem lugar. Que raiva!
O templo superlota,
José Leandro não pára de pregar.
Ageu anota. Na sessão a igreja vota.
O novo campo é o Paiva.
A visão do pastor a igreja decora.
Crescer sempre para fora.
A cada nova superlotação,
novo ponto-de-pregação,
nova congregação, nova filha.
Vêm Gradim, Porto da Pedra, Vila Oriente,
Segunda do Porto Novo.
Falta uma. A filha mais preciosa.
A que não congrega em templos terreais,
formada pelos irmãos que daqui partiram,
que não superlotará jamais.
Porto da Madama,
a igreja que cresce aos trinta e nove anos de idade,
Pregando Cristo: Razão da tua liberdade.
(Homenagem aos 39 anos da IBPM)
22.11.1991