Não posso dizer que sou poeta...
Não posso dizer que sou poeta...
Faltam-me verbos e aptidão!
Mas tenho tantos vocábulos
a fervilhar na minha mente!
Não posso dizer que sou poeta...
Sou de uma carne que pulsa
poesias; sou uma jura de
amor perdida no tempo!
Não posso dizer que sou poeta...
Sou os acordes belos que os
dedos tiram das cordas;
sou os elos da conexão!
Não posso dizer que sou poeta...
Sou a invisível teia da aranha
a espera da presa distraída;
sou a árdua luta da criação!
Não posso dizer que sou poeta...
Não sei adornar as elocuções,
nem tenho uma irracional
angústia presa no peito!
Não posso dizer que sou poeta...
Não me assento sereno frente
a uma virgem lauda de papel
a espera que o verso se crie!
Não posso dizer que sou poeta...
Não tenho em mim o tempo
insano dos amantes; nem
tenho sonhos de altivez!
Não posso dizer que sou poeta...
Mas a flecha do destino que
indica os escolhidos quase
que se deteve em mim!
Mas não posso dizer, ainda,
que já estou poeta!