CAMELÔ
- Olha linha, agulha, vai freguesa?
mudou de lado, é falsa burguesa,
esquece que rico também vira pó...
- Moço, tem linha rococó?
- Dez reais o carretel, vai?
O moleque vai empinar pipa
e a tarde jogar de beque
com a turma lá de cima.
- É, meu sinhô, isso aí
é a vida de camelô, dura,
carregando caixas,
fugindo do rapa da prefeitura...
Já fui moleque como aquele,
sem tempo pra coisa séria.
No morro, o dia era mentira
e a noite, pilhéria.
vender quinquilharia foi minha sina,
comendo feijão com farinha
e o resto pra propina...
- O sinhô é repórter?
pois diz lá no seu jornal
que o nosso corre-corre
é sem carteira profissional,
INSS, férias, aviso prévio,
décimo terceiro ou Funrural.
Diz que a gente tem casa
filhos e mulher...
- Olha linha, agulha,
fazenda barata...
Não tem jeito não,
Lá vem o rapa...