ANJO AZUL
Em sinuosas trilhas,
nas retas d’além definho.
Errante da vida nas milhas,
sou viajor – procuro caminho.
Serpenteando, lesando montes,
deságuo as dores do peito.
Águas revoltas com saudades da fonte,
sou rio – procuro leito.
Lamúrias do mundo evoca a harpa,
encerrando ecos num coração
precipitado em funda escarpa.
Sou compositor – procuro canção.
Anelando o senso estético,
qual varoa ao infante que nina,
não recuo ao apelo patético.
Sou poeta – procuro rima.
Amálgama de cores,
tal visão de um querubim,
na aura de Deus inebriantes olores.
Sou flor - procuro um jardim.
Cantando aos acordes das vagas,
na alvura da espuma, no auge da luta,
quantas saudades de ti, daquelas plagas,
sou maestro – procuro batuta.
Procurando no fundo da batéia
o bálsamo para um peito arquejante,
atrelo ao sentido uma idéia,
sou garimpeiro - procuro um diamante.
Solerte! vil espectro sombrio,
sem os azuis de brilhante afirmação,
açoita-me o firmamento, látego frio,
sou estrela - procuro uma constelação.
Percorro a madrugada engalanada,
bocejos da aurora, canora melodia
nos arraiais, ao trinar da passarada,
sou sol - procuro um dia.
Arfante, cansado, ao sabor
de soturna dama de fronte nua.
Gregas calendas de amor.
Sou noite – procuro lua.
Ergo a voz longe do aprisco,
meu dizer prenuncia redenção,
Ai! Deus, não sou anticristo.
Sou profeta – procuro revelação.
De errante que vou, subi
às celestes miríades, sentindo o pecado.
Clamei ao Deus que ví,
Sou pecador - procuro perdão.
Da tanta procura, se sonha.
Despertaste-me. Eras tu.
Acariciei auréola risonha.
sou a alegria – és anjo azul.