ANJO AZUL

Em sinuosas trilhas,

nas retas d’além definho.

Errante da vida nas milhas,

sou viajor – procuro caminho.

Serpenteando, lesando montes,

deságuo as dores do peito.

Águas revoltas com saudades da fonte,

sou rio – procuro leito.

Lamúrias do mundo evoca a harpa,

encerrando ecos num coração

precipitado em funda escarpa.

Sou compositor – procuro canção.

Anelando o senso estético,

qual varoa ao infante que nina,

não recuo ao apelo patético.

Sou poeta – procuro rima.

Amálgama de cores,

tal visão de um querubim,

na aura de Deus inebriantes olores.

Sou flor - procuro um jardim.

Cantando aos acordes das vagas,

na alvura da espuma, no auge da luta,

quantas saudades de ti, daquelas plagas,

sou maestro – procuro batuta.

Procurando no fundo da batéia

o bálsamo para um peito arquejante,

atrelo ao sentido uma idéia,

sou garimpeiro - procuro um diamante.

Solerte! vil espectro sombrio,

sem os azuis de brilhante afirmação,

açoita-me o firmamento, látego frio,

sou estrela - procuro uma constelação.

Percorro a madrugada engalanada,

bocejos da aurora, canora melodia

nos arraiais, ao trinar da passarada,

sou sol - procuro um dia.

Arfante, cansado, ao sabor

de soturna dama de fronte nua.

Gregas calendas de amor.

Sou noite – procuro lua.

Ergo a voz longe do aprisco,

meu dizer prenuncia redenção,

Ai! Deus, não sou anticristo.

Sou profeta – procuro revelação.

De errante que vou, subi

às celestes miríades, sentindo o pecado.

Clamei ao Deus que ví,

Sou pecador - procuro perdão.

Da tanta procura, se sonha.

Despertaste-me. Eras tu.

Acariciei auréola risonha.

sou a alegria – és anjo azul.

JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS
Enviado por JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS em 05/01/2012
Reeditado em 24/02/2016
Código do texto: T3423983
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