Três lados em forma de agulha
O martelo fere as cordas do piano,
e as notas se espalham como fumaça,
deixando sempre um cheiro de dor
pela criação nascida da pedra.
Há ouvidos para não ouvir,
e mãos para não roubar do dia
o olhar perdido de quem está bem ali,
e é alheio à música entorpecida.
Enquanto o futuro se insinua como réptil,
descendo as verdes cortinas de veludo,
o passado se assenta sob os lustres,
com seu exótico chapéu de plumas brancas,
e seu impossível senso de nunca mais.
As partituras insistem na invenção,
os dedos quase se quebram comovidos,
os olhos ainda olham para a mesma direção,
mas a mente saiu pela torre,
como o fumo que se eleva irregularmente
tocado pelo vento inventado pela tarde.